Fortuna Critica

Angústias da juventude



Eduardo Lanius
Jornal do Comércio (Porto Alegre, 26/04/2007)

Um repositório de temas e situações de um grupo social específico é do que pretende dar conta Adeus conto de fadas (minicontos juvenis) (7Letras, 84 páginas, R$ 20,00), coletânea que Leonardo Brasiliense autografa às 19h30min de hoje, na Livraria do Arvoredo (Félix da Cunha, 1213). Contudo, ao retratar as inquietações da adolescência, o que o autor atinge é o segredo de contar boas histórias, sem preocupações com idades determinadas - e que, portanto, podem ser lidas por interessados em ficção de qualidades de quaisquer faixas etárias. Brasiliense, autor do ensaio O desejo da psicanálise (1999) e dos livros de contos Meu sonho acaba tarde (2000) e Des(a)tino (2002), deve ainda assinar a reunião de narrativas curtas durante a Feira do Livro de Santa Maria, em Mario, e na Feira do Livro de Porto Alegre, em novembro.

Os 72 microcontos - alguns de uma única frase, os mais extensos inferiores a 20 linhas - tratam de dois primos no parque, da primeira menstruação de uma menina ou do garoto que prefere se drogar a dormir em um albergue, entre outros flagrantes do cotidiano juvenil. Nem os tempos de hoje, repletos de sites de relacionamento como o Orkut ou o instrumento de comunicação que é o messenger, ficaram de fora. No geral, Brasiliense pinta o retrato de uma geração precoce em questões de sexo e violência, sem perder de vista uma dose generosa de bom humor - caso da história do narrador que andava com Robertão sentindo-se protegido pelo suposto amigo, mas que um dia leva uma surra porque o tal companheiro quer se exibir para as meninas. "Os temas são especificamente juvenis ou a ambientação é juvenil", conta Brasiliense.

Formado em Medicina, embora trabalhe como Auditor Fiscal da Previdência Social, o autor - nascido em São Gabriel em 1972, residente entre

Lajeado e Santa Maria - chegou a preparar uma lista de assuntos para chegar ao conjunto de Adeus conto de fadas. Para tanto, vasculhou comunidades do Orkut à procura de possíveis motes para algumas das situações enfeixadas no livro, além de passar em revista publicações como Capricho. Conforme se percebe em Descoberto - "Que olhos bonitos você tem', ela me disse quando tirei os óculos. E naquele instante, seu rosto era o borrão mais lindo que eu já vi" - ou mesmo em outros exemplos mais concisos, Brasiliense se aproximou do estilo enxuto pregado por um dos mestres do conto mínimo no Brasil, o paranaense Dalton Trevisan.

 

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